Crônica, Pessoal

Quase sozinha

Sempre vive num mundo onde simplesmente podia confiar completamente em alguém. Podia contar qualquer coisa, essas pessoas me entendiam. Tudo que dava vontade de fazer, fazíamos juntas, porque tínhamos as mesmas vontades. Nunca tive problemas em ter que guardar um segredo de alguma amiga, podia confiar, contar tudo, jamais a história se espalharia. Porque minha vontade incontrolável de comentar com alguém tal segredo, poderia perfeitamente ser saciado contado para essas pessoas. Com certeza, não sairia dali.

Eram praticamente extensões de meu ser. Coisas que não conseguia compreender em mim, poderia perfeitamente aprender com as atitudes dessas pessoas. Passávamos horas a conversar, escutar música, ler, discutir e até brigar que aquela relação não se desfazia nunca. Unidas contra o mundo inteiro, e a favor da proteção e da felicidade, caminhávamos juntas, os mesmos passos, as mesmas vozes, os mesmos medos e anseios.

Eu era completa. Tudo que me faltava, com certeza achava nelas. Se me faltava paciência, esta transbordava na outra. Se na outra faltava agilidade, sobrava esperteza a rapidez na terceira. Se faltasse persistência, uma abria os abraços e dávamos as mãos e seguíamos, convictas de estar seguras. Unidas, eram um ser pleno.

Tínhamos uma música, tema do companheirismo e da sensação de união.

Somos um só, irmão e irmã, cara metade tudo é amizade, parte de ti, parte de mim, parte de tudo que existe. Sonhos, fantasias no azul do mar, juntos só eu e vc.

Cantamos até o som se calar. Brincamos, até nos cansarmos. Rimos, até doer a bochecha. Discutimos, até ficarmos sem mais argumentos. Andamos, até a encruzilhada. É, esta que nos separou. Esta que fez cada uma seguir seu próprio caminho. E lá vão elas, separadas. Não mais são plenas, tampouco incompletas. Diferentes. São diferentes de antes. Já não se entendem mais, já não se tem o mesmo sentimento de união, já não gostam das mesmas coisas, já não estão inseridas no mesmo grupo de amigos. Mas estão firmes na luta. O que elas almejam?

Serem felizes. Fazem de tudo para isso. Não mais juntas, mas aquele sentimento de trazer o mundo para bem perto delas ainda não se desfez. Sentem falta de daquela compreensão, daquele espelho, daquele reflexo. De alguma forma ainda estão super ligadas. Mas uma forma diferente.

O tempo é assim. Bom tempo que passou. Bom tempo que nos proporcionou isso. Bom o tempo que tbm nos tirou isso. E agora, aquilo que nos cerca, aquilo que depende de nós, que outrora era respondido em três, tem que ser feito com um terço. Mas este terço é forte e inteligente. Elas  ainda carregam um pouco uma da outra dentro de si, e isso as fortalece.

Essas três meninas cresceram, se chamam Ana Lúcia, Franciane e Gabriela. As três bruxas da Meia Praia….

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