“Se quiser ter orgulho de si mesmo, faça coisas das quais possa se orgulhar”. (Karen Horney)
Parece óbvio, né? Mas nem sempre é simples assim.
“Se quiser ter orgulho de si mesmo, faça coisas das quais possa se orgulhar”. (Karen Horney)
Parece óbvio, né? Mas nem sempre é simples assim.
Qual é mesmo a importância do passado nas nossas ações do presente? Qual é a medida ou estudo exato que nos tira ou coloca responsabilidades conforme nossa construção de personalidade da infância? O quanto usamos isso para nos eximir da responsabilidade de atos cometidos hoje?
Eu mesma costumo, com muita frequência, culpar meus pais por coisas que aconteceram na infância, acreditando que devido a essas coisas eu tomo certas decisões hoje. Mas até que ponto isso realmente faz sentido? Revirar as cinzas do passado é tentar nos esquivar das resposabilidades sociais de nossas ações?
Por um lado, sim. Vamos combinar que fica bem mais fácil também. “Eu fiz tudo isso ontem devido aquele acontecimento quando eu tinha 5 anos de idade e não tinha ninguém para cuidar de mim e …”. É dar para os outros o que não é deles e é também um tapa olhos que não ajuda em nada na hora de mudar de atitudes. O passado tem sim, muita importância, mas não tentemos dar a ele mais do que ele pode carregar, já que nós é que não aguentamos com o peso. E ao invés de tentarmos nos livrar, jogamos lá atrás, e assim continuamos mais e mais pesados.
Porque um dia você acorda e o sol brilha mais e tem mais luz e calor. E o ar entra e sai dos pulmões com leveza. E os cabelos estão mais soltos, mais leves e macios. Quando você é indagada, a resposta sai autêntica, tranquila, e as vezes até tem graça.
E você olha na vitrine da loja e se vê, e diminui os passos, ou até para. Tem dias que você cheira sua pele do braço, e gosta do cheiro. Passa seus lábios sobre ele em demonstração de carinho. As vezes você para na frente no espelho e se olha, e sorri, numa demonstração de afeto. E você olha nos olhos, bem fundo, passando confiança. Nesses dias os passos são ritmados e os caminhos são floridos. E você não está sozinha.
As ruas parecem longes demais. Os prédios são altos e nem imagino como é acima deles. Os corredores parecem não acabar e e nunca sei em que porta entrar. As salas são muito amplas e vazias. Os livros têm muitas palavras e parecem não dizer nada. A TV transmite tanta coisa que nem dá para assimilar. Os pássaros voam longe e borboletas nunca mais vi. Os sons são altos e mal posso decifrá-los. As pessoas passam longe e não posso tocá-las.
Tudo parece tão distante, tão complicado, tão estranho. Faz-me pensar se não é o caminho até mim que nunca chega. Se é o que eu falo que não é pra ser decifrado. Se o que aparento ser, não é o que eu sou. Se o que eu berro, ninguém consegue entender. Se não sei mais voar ou se voo alto demais. Tão distante de mim, tão distante de tudo.
Longe demais para encurtar ruas, aquecer salas, encurtar conversar, achar a porta certa no corredor, escolher o programa na TV, ter paciência em ler até conseguir entender, sentar e olhar pássaros e esperar borboletas sobrevoarem baixo.
Minha facilidade de gostar e deixar de gostar já esta passando dos limites. Levam apenas minutos ou algumas dezenas de palavras para que eu me entregue, desesperada. E outros segundos, para que eu fuja, desalentada.
Não, solidão, hoje não quero me retocar
Nesse salão de tristeza onde as outras penteiam mágoas
Deixo que as águas invadam meu rosto
Gosto de me ver chorar
Finjo que estão me vendo
Eu preciso me mostrar
Bonita
Pra que os olhos do meu bem
Não olhem mais ninguém
Quando eu me revelar
Da forma mais bonita
Pra saber como levar todos
Os desejos que ele tem
Ao me ver passar
Bonita
Hoje eu arrasei
Na casa de espelhos
Espalho os meus rostos
E finjo que finjo que finjo
Que não sei
Chico Buarque
E a vida segue seu curso. Por menos que faça sentido, as coisas vão acontecendo, independente de você estar pronta para elas. As pessoas vão surgindo, as pessoas vão se indo. Cada um que se vai leva um pouco de ti. Cada um que surge trás consigo um pouco de ti que você nem sabia que existia. Uns se vão com aquela pessoa que você adorava ser. Alguém que sorria, que cantava, que contava histórias. Que calava. Um silêncio doce replato de sentimentos bons. Um belo dia levam isso de ti.
Muitas vezes corremos atrás para trazer tudo aquilo de volta. Numa tentativa desesperada e desastrada de voltar a ser quem éramos. E por vezes consigimos trazer a pessoa de volta, mas dificilmente ela trás você de volta. E tudo perde de novo o sentido e você percebe que precisa de coisas novas. Pessoas novas. Sentimentos novos. Mas nesses idas e vindas não temos controle de quem vai surgir. E tampouco o que essa pessoa vai fazer surgir em você.
Mas já que corremos o risco de sermos felizes no meio disso tudo, mergulhamos de cabeça, arriscamos o que for. Porque não vai ser na inércia que mais uma vez você vai sentir que o mundo cabe dentro de você. E que você cabe nele perfeitamente.
A convivência com as pessoas nos envolve num ciclo vicioso de comportamento. Não gostamos muitas vezes do tom ou da maneira com que algumas pessoas falam com a gente, e muitas vezes nos pegamos falando do mesmo modo com outras pessoas. Por que repetimos uma atitude que reprovamos? É a lei do oprimido X opressor? Isso assim, automático e sem nos darmos conta? Algo natural?
Estranho essa mundo humano e adulto. Onde nos confundimos com nossos pais, ainda que não concordemos com eles e muitas vezes fazemos coisas movidos por sentimentos e ações que não são propriamente nossos. Uma imitação que vem de geração para geração. Num exemplo bem simples e até superficial, é uma careta que eu imito de minha mãe e que a minha avó também faz. Isto é apenas um exemplo físico e visível. Quando se fala se sentimento, de opinião, de modos, é coisa é bem mais complexa.
Não que isto seja uma coisa ruim, se certa maneira não é. Mas muitas coisas não precisam ser assim. E ter este distanciamento e tentar corrigir, é se melhorar. É não cometer os mesmo erros. Cometer outros, com certeza, para que os mesmos?