Você tem medo de morrer? Por que você tem medo de morrer? O que te faz querer estar vivo? O que você não quer perder? O que não quer abandonar? O que você precisa viver ainda? Ou é medo da morte? Ou é medo de não viver mais? Mas o que você quer viver?
O medo de morrer assombrou a população mundial com a pandemia. O medo de perder as nossas pessoas também nos assombrou. E isso nos fez refletir sobre nossa existência, sobre a vida e sobre a morte.
Eu existo pra que? Eu, Ana Lúcia, existo pra amar as minhas pessoas, para conhecer gente nova, pra realizar meus sonhos e pra aprender. E quanto tempo eu passo procrastinando meus estudos, brigando com quem deveria estar dando amor, sem paciência pra conhecer gente nova e achando desculpas pra não realizar meus sonhos?
Se a morte chegasse agora, o que está faltando eu fazer? O que eu já fiz? Por que eu devo partir e por que eu devo ficar mais tempo aqui?
Eu posso partir porque me melhorei muito como pessoa, transmiti coisas lindas para as pessoas ao meu redor, porque fiz dois filhos maravilhosos pro mundo. Mas, eu devo ficar porque tenho muito mais o que aprender, lugares pra conhecer, um livro pra escrever e algumas histórias por contar.
Aí eu pego a morte e coloco numa caixinha, como se eu pudesse manipulá-la, como se eu fosse capaz de escolher o momento de tirá-la de lá e fazê-la existir. Momento que eu pararia de ser, como se fosse uma escolha minha. Quando, na verdade, deveríamos colocar a morte na estante da sala, onde a veríamos o tempo todo. Cada vez que chegássemos em casa, cada vez que fossemos atender a porta, cada vez que levantássemos pra pegar um copo de água. A morte deveria estar escrita na nossa testa. Deveria estar grudada no nosso relógio, para cada vez que fossemos ver as horas olhássemos pra ela.
Só a morte nos dá a noção mais clara da vida. Mas a gente prefere escondê-la e passar a vida ensaiando viver, planejando viver, quando deveríamos viver de verdade cada segundo nosso, que contássemos cada segundo de vida. No relógio com a morte, a vida tem outro sabor. Estampe a sua morte na sua vida, pegue a sua vida e viva todo dia.
Aceite o que a pandemia te deu de presente, acredite que você é super morrivel, abrace e beije essa noção de finitude e aproveite mais seus segundos de vida. Porque a vida é esse exato momento.
Que texto maravilhoso!! Você tem uma sensibilidade diante da vida, uma capacidade impar de interpretação do cotidiano, das relações, das relações com o mundo e com si mesmas. Parabéns irmã!