História

O dia que quase fomos atropelados por uma baleia

A história começa em 15 de julho de 2021 em Tijucas, quando nosso barco finalmente iria navegar pela primeira vez. Depois de 4 anos de trabalho árduo, um casamento quase falido e gastando mais que o triplo do orçamento planejado, nosso tão sonhado Catamarã Destino estava pronto para rumar pra Canto Grande, em Bombinhas.

Eram 5 horas da manhã quando ligamos os motores do barco e começamos a passar o Rio dos Bobos que nos levaria a estreia do barco no mar. Adentramos ao oceano Atlântico por volta das 5h30 da manhã com alguns contratempos, um pouco de tensão e muito de emoção. O sol começava a nascer assim que avistamos o horizonte naquele mar calmo e sereno. Começava ali a travessia até o primeiro ancoradouro do Destino Catamarã.

Golfinhos

Chegando em Canto Grande, uma movimentação na água chamou nossa atenção, foi quando o grande presente de aniversário da minha filha iria chegar. Mais de 150 golfinhos nadavam e exibiam sua beleza e esplendor por todos os lados e por baixo do barco, batendo suas nadadeiras na água como que saudando o barco e a Carol pelo seu aniversário. Como tinham sido avistadas muitas baleias na região, brincamos com a Carol que tínhamos contratado baleias para o dia do seu aniversário, mas que Deus tinha enviado no lugar delas, todos esses golfinhos felizes. Foi uma experiência memorável que ficará guardada no coração e na memória por quanto tempo a gente existir.

Até aquele momento estávamos a bordo eu, Ricardo, capitão e meu marido, Carol, nossa pequena filha, que nesse dia completava 6 anos. Mais o Ezequiel e Elizeu, que trabalharam na construção do barco, e que logo ao chegarmos com segurança ao local planejado, se despediram de nós e nos deixaram a desfrutar aquele momento em família.

Passamos três dias em Canto Grande encantados com todas as possiblidades que o barco nos dava e vivendo aquele sonho que planejamos por tantos anos. Tivemos dois dias lindos de sol, recebemos amigos, cantamos parabéns pra Carol na praia com um bolo e dormimos a bordo pela primeira vez na água salgada.

Vento

No 17 de julho começou a bater vento forte, ficamos apreensivos porque era nossa primeira experiência com vento num barco que acabara de sair do galpão a seco e agora fazia o que foi feito para fazer, boiar, resistir a ventos e ondas fortes. Estávamos com um casal de amigos a bordo, Junior e Andressa, que tinham ido passar a noite com a gente.

Dia 18 pela manhã o vento terral batia intensamente e resolvemos procurar abrigo no outro lado da baía. Ao chegar, descobrimos que lá não teria como ficar também, as ondas batiam no fundo do barco e o desconforto do vento foi deixando todos nervosos, menos o capitão, que seguia firme no propósito dele, proteger os tripulantes e o barco.

Com coletes salva vidas em todos a bordo, decidimos passar a ponta de Canto Grande e procurar abrigo na praia da Conceição, que ficava do outro lado da península. O caminho era curto, mas as ondas e o mar agitado, davam um tom de tensão no ar.

Pelo meio do caminho começamos a avistar as baleias, que faziam um show à parte bem à frente, mas com uma distância considerável e segura. Era a primeira vez que víamos baleias estando em uma embarcação no mar. Ficamos encantados, debruçados nas janelas, aguardando o momento que veríamos as baleiras mais de perto. Foi quando, de repente, surge uma baleira Jubarte bem na nossa frente, ela sai da água na proa do barco, nós pudemos ver seus olhos a nos observar e amedrontar. O capitão tirou motor na hora e só aguardou o impacto do barco com aquele animal enorme.

O barco tem aproximadamente 7 toneladas e 12 metros de comprimento. Uma baleia Jubarte tem, em média, 20 metros de comprimento e pesa cerca de 20 toneladas, imagino o estrago que esse encontro daria. Nos preparamos para o impacto e nesses segundos um filme passa na cabeça. O barco vai rachar? vai afundar? a gente vai cair na água? Nosso sonho de 4 anos de luta acaba aqui?

Todos apavorados. Carol e Andressa não tinham mais cor. Ricardo estava arregalado, mas sorrindo, num misto de emoção e tensão. Eu sentia meu coração bater fora do meu corpo. Uma combinação de pavor, medo e ansiedade tomou conta de todos.

A baleia, enorme, calma e ligeira, com metade de seu corpo monstruoso pra fora da água, nos olhou fixamente e sumiu mar abaixo, evitando o impacto que já achávamos que seria inevitável. Que alívio. Nos olhamos incrédulos e se perguntando se aquilo realmente tinha acontecido. Continuamos a percorrer o caminho até a Conceição em silêncio. A baleia nos seguiu ao longe, nadando rápido entre as ondas, mas numa distância que não nos causaria danos, mas se fazendo presença constante até adentramos a baia da praia da Conceição.  

Guardando na memória, cada um de sua forma, o que jamais será esquecido por quem estava a bordo do Destino Catamarã naquele dia 18 de julho de 2021.

Cada um de nós processava o acontecimento de forma diferente. E a seu modo, fazia a prece pelo livramento recebido. Nada tinha acontecido. Deus havia nos salvado? O capitão tinha sido esperto? Ou foi apenas um golpe de sorte de todos nós, inclusive da baleia, que sairia machucada caso o barco se chocasse com ela.  

Chegamos à praia da Conceição, e por não encontrarmos abrigo do vento, resolvemos seguir viagem. Nos despedimos do Junior, Andressa e Carol, que fariam o caminho até Itapema de carro. Eu e o Ricardo resolvemos levar o barco até Porto Belo, onde ficaria ancorado em segurança e de onde seguiríamos para casa.

O dia acabou sem mais delongas, mas com aquelas imagens percorrendo nossa memória. O dia que uma baleia queria nos ver de perto, a gente queria ver ela de perto e o momento desse encontro. Uma enxurrada de emoções que ficarão guardadas na nossa história para sempre.

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Crônica, Filosofando

Porque eu escrevo…

Eu escrevo para transformar em palavras meus pensamentos. Mas tem sido difícil fazer isso. Encontrar no dicionário o que possa descrever tudo que passa na minha cabeça. Também procuro palavras para aliviar meu coração, e isso também é igualmente difícil de achar.

Procuro as palavras que me tirem da solidão de um dia sem amigos. Um dia que me culpo por me excluir da vida social e ficar apenas me guardando para mim mesma, com medo de me perder, seja em palavras, seja em ações.

Escrevo porque quero contar o que eu sinto quando estou em meio a natureza, cores e vida pulsante. Descrever como me sinto ao estar no meu lugar favorito no mundo, sentada num gramado verde, observando as árvores se balançarem ao sabor do vento, os pássaros voarem soltos e as borboletas desfilarem alegres bem na minha frente. Escrevo para tentar transmitir em palavras o som da água corrente batendo nas pedras e levando pequenos fragmentos de vida água abaixo.

Escrevo para tentar compreender meus sonhos. Numa tentativa voraz de colocar em palavras o que parece a coisa mais sem coerência do mundo. Onde o tempo passa diferente e não existe linha do cronológica. As coisas mudam de lugar sem eu perceber e as pessoas se transformam em animais bem na minha frente. Onde eu falo com cachorros ao mesmo tempo que estou numa montanha russa quebrada e que não sei quando vai chegar o momento que os trilhos não vão mais existir e o que vai acontecer comigo a partir disso. Eu escrevo para tentar entender por que minha mente faz isso comigo.

Eu escrevo para dizer às pessoas o quanto eu as amo e como elas são importantes para mim. Eu escrevo até mesmo para quem não pode ler ainda, quem não pode ler mais ou pra quem nunca vou enviar o texto. Mas escrevo mesmo assim, porque quero entender cada sensação minha ao pensar, lembrar ou sentir as pessoas.  

Eu escrevo porque eu preciso achar as palavras certas, embora saiba de antemão que elas não existam. Nossa mente é complexa demais em cada instância dela para ser decodificada num alfabeto feito por qualquer homem que já existiu. Mesmo assim vou continuar escrevendo, porque é o único jeito que encontro de visualizar minha mente,  meus pensamentos e sensações e desacelerar um pouco as batidas do meu coração.

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