Crônica, Filosofando, Pessoal

Eu te amo

Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo.

Quantas vezes nós já ouvimos ou proferimos essas palavras para um companheiro? E quantas vezes tivemos certeza do que significava? Sempre fui contra a banalização do “Eu te amo”. As pessoas saem se amando por ai muito rápido. Muito vazio. É difícil também medir a medida do amar. Do gostar tanto, que dizer que gosta, é pouco. Até que o “Eu te amo” estoura, sonoro e inesperado.

Já levei meio ano para dizer que amava alguém, para logo após, quando acabou o relacionamento, perceber que o sentimento verdadeiro não era de amor. Era gostar, ou admirar, ou simplesmente de posse. Mas não era amor.

Tenho quase certeza que amei meu primeiro namorado. Aos 15 anos. E tenho certeza que amo meu atual namorado. Já os outros eu ti amos que proferi por aí era tudo balela? Bom, agora é, mas quando eu disse, certamente, acreditava que era amor.

Então me pergunto – que amor é esse? É um amor que acaba quando acaba a afinidade? Mas se acaba o relacionamento significa que o amor então não existiu? Ou parou de existir? Mas por que ficamos com a sensação de não ter amado nunca? O amor está ligado com a felicidade que se sente quando se está com a pessoa amada. E se essa pessoa não te dá mais felicidade, significa que você não a ama mais? Então não existe amor? Existe apenas um sentimento de felicidade que o outro te proporciona? É assim, egoísta?

Sei lá. Só sei que me sinto feliz, e amando e me sinto amada.

E outra coisa, não importa como vai ser depois. Porque não ligo pro depois, eu não o conheço. Quando me deparar com ele, eu saberei lidar. Mas, depois.

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Crônica, Família, Pessoal

A frase

E eu olhei pra ela e disse:

– Não me importa mais o que você acha!

Depois desta frase, tão verdadeira e tão espontânea, e, sem ter pensado sobre seu significado, percebi que muita coisa já tinha mudado em nossa relação. Geralmente as coisas acontecem ao contrário, eu penso, percebo que as coisas pegaram novos rumos e depois estes novos rumos invadem minha vida. Mas desta vez não. A frase veio e a despejei. E, depois, veio o estalo.

Mas antes não tivesse dito nada. Muito menos ter sentido o nada. O do vazio, aquele que dá quando perde alguém, perde referência. Alguém que sempre escutei, considerei, confiei. De repente, num domingo chuvoso, no meio de um brigadeiro na panela, eu me deparo com a frase, com a constatação, com a perda.

Ela não disse, só olhou. Olhou por algum tempo. Deu de ombros, e virou. Essa era nossa confirmação. Continuamos ali, comendo brigadeiro e tomando Coca-Cola. Aquela nova verdade entre a gente já estava sendo construída há tempos. Só não tinha se expressado. Não tinha virado frase. Não tinha sido ouvida.

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Crônica, Filosofando, Infância, Pessoal

Por onde andei

Tenho 24 anos e fumei quase metade de minha vida. Aos 12 anos, depois de não conseguir me inserir num grupo onde sempre achei que fazia parte, que eram os das meninas que fazem as coisas certas, entrei para o time das meninas más. Rebeldes e na ânsia de fazer o que não era permitido, fumar era como levantar uma bandeira. Comecei a fumar. Não gostei no começo, no entanto, estava decidida a ter aquelas amigas. Insisti e com o passar das “pitadas” o cigarro foi ficando mais atrativo.

Fumava escondido de meus pais, o que tornava o ato ainda mais clandestino. Meus pais, quase todas as noites iam à casa do vizinho e este era o momento de acender o fedido. Íamos para o quarto, sim, no plural, porque minhas duas irmãs faziam parte do time. Abaixadas na janela, com a luz do quarto apagada, fumávamos cuidando meus pais na sombra do quintal. Se alguém se levantasse na casa da Dona Helena, a vizinha, podíamos ver, e logo jogar o maldito. Se permanecem sentados, ótimo, podíamos degustar o saber de um cigarro inteiro. Só não escondíamos as chepas, que formavam uma nuvem branca embaixo da janela. Meus pais nunca ligaram para elas.

No colégio éramos as meninas de atitude, as meninas más. Fumávamos na entrada, no recreio e que não fazíamos o caminho do colégio para casa se não fosse com um belo e comprido cigarro por entre os dedos. No recreio, ficávamos no muro da escola, um pouco distante dos outros e de onde tínhamos uma visão privilegiada do corredor que ligava a direção ao pátio. O colégio inteiro podia ver nossa ousadia, ou, nossa fumaça, só cuidávamos para não sermos pegas. Para ser rebelde precisa também ser esperta. Essa esperteza, confesso, nunca foi meu forte. Era esperta nas provas, tirava notas boas, entendia química, história, português, mas não entendia a matemática de colar nas provas. Minhas amigas más entendiam bem disso, pena que não tinha nenhuma na minha sala para me orientar ou fazer frente. Não me restava alternativa senão estudar oulevar ferro, a segunda opção já tinha se tonado a mais comum. Era-me um pouco penoso ser má longe delas. No grupo, eu tinha poder e esperteza, mas não sabia fazer isso sozinha. Nunca admiti isso para mim mesma, queria me tornar uma delas. Estudar e tirar notas boas já não era mais importante, queria ser foda, como elas eram.

Nós encontrávamos muitas vezes durante o dia e a noite, quando a atividade principal era levar o cigarro a boca, tragar, soltar a fumaça e bater a cinza. Tudo isso quanto falávamos muito em meninos, nossa segunda atividade predileta era beijar eles. Alguns ainda estudavam na nossa escola e outros já tinham se formado e já cursavam faculdade. Não ligávamos para a idade deles nos sentíamos muito mulheres com nossos cigarros acesos. Nessa época eu tinha 13 anos. Já completava um ano de cigarro.

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Cotidiano, Filosofando, Pessoal

Mudança

Resolvi que vou começar a relatar de forma engraçada as coisas que acontecem na minha vida. Sempre tem uma coisa que acaba dando errado e que, de tão inusitadas que são, podem muito bem virar histórias engraçadas. Desde achar que meu carro foi roubado, gasolina acabar na BR 101, tentativa de resgatar meu FGTS, ser traída num relacionamento que eu não queria mais, sair com um gatinho, tomar todas e ele ficar com minha amiga, entre outras coisas que acontecem e que me desmoronam. Ai acabo sempre repetindo: “Como minha vida é difícil de ver vivida”. Essa é a frase que eu repito quando algo dá errado. Pode parecer engraçado, mas quando eu digo isso eu estou totalmente despedaçada.

Por que as coisas sempre acontecem de forma diferente que eu planejei? Será que eu planejo e imagino demais as coisas? Quanto algo sai do previsto eu fico totalmente abalada, faço tempestades terríveis e me jogo na depressão total, da qual acho que nunca mais vou sair. Mas, incrivelmente, minutos depois, estou totalmente recuperada. Mas por que eu me jogo assim na tristeza, sendo que sempre acabo ficando bem depois de pouco tempo? Por que eu me cobro tanto para que tudo saia como previsto? Por que eu não culpo o acaso ou culpo outras pessoas? Por que eu tenho sempre que achar um culpado? Por que simplesmente não aceito as coisas como elas são?

A idéia do contar veio para tentar deixar ao menos a história engraçada, tirar ela do trágico. Serve também para aliviar o peso que eles tem, para amenizar, para digeri-la e depois exteriorizá-la de uma forma que de vontade de rir. Afinal, essa sou eu e essa é a minha vida, e os acontecimentos dela, por que eu tenho que torna-los tão densos assim? Por que tenho que deixar a vida da pessoa mais importante do mundo para mim tão difícil e penosa assim? Vou tornar a vida desta menina mais relaxada, mais leve e mais engraçada.

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Crônica, Infância, Pessoal

Eu?!

Vivi até hoje tentando incansavelmente descobrir quem eu sou. Sei que já fui muita coisa. Menininha atrevida que jogava futebol com os meninos. Que subia nas árvores sem medo e ainda construía casas lá em cima. Que descia morros escorregando em um papelão e que morria de medo das historias contadas no rádio da casa de minha madrinha, no sítio, onde não existia luz elétrica e se relatavam lendas terríveis de demônios e almas penadas. Fui embora de casa com seis anos, mas dobrar a esquina parecia perigoso demais e resolvi voltar. Meu primeiro beijo foi em troca de uma volta de bicicleta, quando eu tinha 11 anos.

Já fui uma menina rebelde que gazeava aula. Que jogava a mochila pela janela da escola e a pegava lá fora, depois de passar abaixada pela diretoria. Fazia isso só para andar a cavalo, ou jogar sinuca ou bater papo e fumar cigarro a manha toda. Já sai da sala depois de jogar a carteira no chão brava com meu professor de matemática, que depois me deixou em segunda época. Já fumei cigarro na escola. E beijei também. E briguei. E dancei, numa coreografia linda. E já quase fui expulsa por estar com a galera que colocava moleques no lixeiro e rodava no chão. Já desmanchei macumba e já fiz simpatia de amor. Já fui à cartomante, vidente, taróloga e já brinquei da brincadeira do copo, e da caneta e do compasso. Já roubei o carro do meu pai e já sai de casa escondida no meio da madrugada para ver um grande amor. Já chorei por amor. Já fui muita amada. Tive muitos amigos que amava tanto que acabei beijando, e descobri tarde demais que isso comprometeria muita a amizade. Já cheguei muitas vezes de madrugada em casa e tinha que abrir a porta só quando passasse um caminhão, para que o cachorro não ouvisse a porta abrir e latisse para acordar meus pais.

Já tirei foto dentro de um caixão, com velas acessas e um amigo meu velando do lado. Já avacalhei na brincadeira do soldadinho, onde a punição era ser jogada no açude, mas fui livrada por um cara que me amava e por minha irmã que ainda me ama. Já comecei a escrever um livro. Já escrevi muitas poesias. Já pensai em ser tudo quanto é coisa. Advogada, fisioterapeuta, publicitária, administradora de empresas, psicóloga, mas jornalismo me acompanha desde meus 10 anos e foi à escolha. Já fiz uma fogueira num morro bem alto e passei a noite inteira fazendo juras de amor e bebendo vinho. Já namorei escondido e nosso encontro era sempre em um cemitério perto de minha casa. Fazia mais de 12 km por dia de bicicleta para ver meu primeiro amor. Já montei três quebra-cabeças de 1000 peças e um de 2000 mil. Já li centenas de livros e quero reler mais da metade, mas nunca consigo fazer isso.

Já dei risada até fazer xixi na calça muitas vezes, porque minhas irmãs adoravam me fazer cócegas porque sabiam que eu não conseguiria segurar. Já fiz todos os tipos que regimes possíveis. Já perdi peso por uma paixão. Já engordei muito sofrendo por amor. Já passei quase um dia a base de água. E no outro a base de frutas e no terceiro fui ao Mc porque não agüentava mais me privar de nada. Já desfilei num concurso da mais bonita da escola, mas não me classifiquei, mas é claro que tinha treta :P, já fiz um curso de manequim, modelo e etiqueta. Já fui contadora de histórias para crianças carentes. Já fui atriz, e encenei uma peça onde só eu tinha fala. Já fui hippie e já fui metalera. Uso muito calçado baixo e adoro saias rodadas. Adoro brincos e colares indianos. Brigo com meus cabelos quase todos os dias. Sempre acho que preciso emagrecer, mas geralmente gosto muito de meu reflexo no espelho.

Amo minhas irmãs e meu filho mais que tudo no mundo. Mas às vezes acho que não demonstro muito isso. Aprendi a respeitar e amar meus pais só depois que virei mãe. Adoro o sol, o luar, o cheiro de grama cortada, a casa cheia, o meu carro limpo, sushi, beijo, unhas vermelhas, mini saias, óculos escuros, mergulhar no mar, ver o João dormir, um cafuné, declaração de amor, dar gargalhada. Entre muitas e muitas coisas. E coisas que eu ainda nem sei se eu gosto, mas que um dia saberei e isto tbm fará parte do meu eu.

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Crônica, Filosofando, Pessoal

Lama

Por que eu mergulho tanto dentro de mim mesma e não consigo ver o mundo lá fora? Por que eu não consigo me distanciar e ver as coisas acontecendo fora de mim? Por que meu mundo fica apenas dando volta e não pega novos rumos, que vão além do que se passou? Por que meu passado insiste em me botar medo e não me deixa viver o presente?

Minha consciência me atormenta e não consigo de desvencilhar dela. Não aceito as coisas que acontecem comigo e por isso nunca posso seguir adiante. Nunca me sinto plenamente solta para sentir o novo. Nos momentos que isso acontece algo de mal vem e me lembra que não posso viver assim. Que não sei viver assim. Que uma vida tranquila e sem anseios e culpas não é para mim. Sempre que me sinto feliz é por pouco tempo. Quando me sinto segura, estou segura também que vai durar pouco.

Acho que a diferença das pessoas que vivem tranquilas e daquelas como eu, que não vivem, é não pensar. Tem gente que simplesmente não pensa. Vai vivendo, agindo, seguindo e sentindo sem pensar. Eu penso. Penso muito. E penso em tudo. Não quero dizer que faço isso querendo, que sou uma pessoa meticulosa e que sempre sabe de tudo previamente e sempre tem uma resposta. Não, quem dera. Eu apenas penso. Não mudo nada do que sei que vai acontecer. Não consigo fazer nada para tornar diferente aquilo que eu sei que deveria ser feito diferente. Eu apenas sei. E as coisas acontecem do jeito que eu sabia que aconteceriam, mas eu fico ali, assistindo tudo como se fosse inédito e não raras vezes me surpreendo com o rumo delas, embora já os conheça.

Sinto-me num poço de lama onde me debato, me debato e não saio do lugar. Tento pegar minhas pernas e puxo meus cabelos tentando em vão me erguer. Mas quanto mais eu tento, mais ofegante eu fico, mais agitada e sinto mais dor. Meu coro cabeludo de desgruda da cabeça e minhas pernas ficam vermelhas e esfoladas em carne viva pela força com que quero me erguer. E sinto dor. Choro. E desisto. E vou ficando ali, inerte. Eu apenas enxergo e consigo respirar, mas não me mexo.

Eu sei que não é força que vai me tirar dali. Mas eu a uso. Em vão. E embora seja forte, me pergunto para que ser forte se não consigo mudar as coisas? Mas saber que sou forte às vezes me consola. E às vezes me faz sorrir. E me mantém viva. Essa força também não deixa de alimentar a vontade incontrolável que eu tenho de ser feliz. Pena que só ela não baste. Pena que não baste eu querer. Ou basta?

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Crônica, Pessoal

Quase sozinha

Sempre vive num mundo onde simplesmente podia confiar completamente em alguém. Podia contar qualquer coisa, essas pessoas me entendiam. Tudo que dava vontade de fazer, fazíamos juntas, porque tínhamos as mesmas vontades. Nunca tive problemas em ter que guardar um segredo de alguma amiga, podia confiar, contar tudo, jamais a história se espalharia. Porque minha vontade incontrolável de comentar com alguém tal segredo, poderia perfeitamente ser saciado contado para essas pessoas. Com certeza, não sairia dali.

Eram praticamente extensões de meu ser. Coisas que não conseguia compreender em mim, poderia perfeitamente aprender com as atitudes dessas pessoas. Passávamos horas a conversar, escutar música, ler, discutir e até brigar que aquela relação não se desfazia nunca. Unidas contra o mundo inteiro, e a favor da proteção e da felicidade, caminhávamos juntas, os mesmos passos, as mesmas vozes, os mesmos medos e anseios.

Eu era completa. Tudo que me faltava, com certeza achava nelas. Se me faltava paciência, esta transbordava na outra. Se na outra faltava agilidade, sobrava esperteza a rapidez na terceira. Se faltasse persistência, uma abria os abraços e dávamos as mãos e seguíamos, convictas de estar seguras. Unidas, eram um ser pleno.

Tínhamos uma música, tema do companheirismo e da sensação de união.

Somos um só, irmão e irmã, cara metade tudo é amizade, parte de ti, parte de mim, parte de tudo que existe. Sonhos, fantasias no azul do mar, juntos só eu e vc.

Cantamos até o som se calar. Brincamos, até nos cansarmos. Rimos, até doer a bochecha. Discutimos, até ficarmos sem mais argumentos. Andamos, até a encruzilhada. É, esta que nos separou. Esta que fez cada uma seguir seu próprio caminho. E lá vão elas, separadas. Não mais são plenas, tampouco incompletas. Diferentes. São diferentes de antes. Já não se entendem mais, já não se tem o mesmo sentimento de união, já não gostam das mesmas coisas, já não estão inseridas no mesmo grupo de amigos. Mas estão firmes na luta. O que elas almejam?

Serem felizes. Fazem de tudo para isso. Não mais juntas, mas aquele sentimento de trazer o mundo para bem perto delas ainda não se desfez. Sentem falta de daquela compreensão, daquele espelho, daquele reflexo. De alguma forma ainda estão super ligadas. Mas uma forma diferente.

O tempo é assim. Bom tempo que passou. Bom tempo que nos proporcionou isso. Bom o tempo que tbm nos tirou isso. E agora, aquilo que nos cerca, aquilo que depende de nós, que outrora era respondido em três, tem que ser feito com um terço. Mas este terço é forte e inteligente. Elas  ainda carregam um pouco uma da outra dentro de si, e isso as fortalece.

Essas três meninas cresceram, se chamam Ana Lúcia, Franciane e Gabriela. As três bruxas da Meia Praia….

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