Crônica, Filosofando, Pessoal

Lama

Por que eu mergulho tanto dentro de mim mesma e não consigo ver o mundo lá fora? Por que eu não consigo me distanciar e ver as coisas acontecendo fora de mim? Por que meu mundo fica apenas dando volta e não pega novos rumos, que vão além do que se passou? Por que meu passado insiste em me botar medo e não me deixa viver o presente?

Minha consciência me atormenta e não consigo de desvencilhar dela. Não aceito as coisas que acontecem comigo e por isso nunca posso seguir adiante. Nunca me sinto plenamente solta para sentir o novo. Nos momentos que isso acontece algo de mal vem e me lembra que não posso viver assim. Que não sei viver assim. Que uma vida tranquila e sem anseios e culpas não é para mim. Sempre que me sinto feliz é por pouco tempo. Quando me sinto segura, estou segura também que vai durar pouco.

Acho que a diferença das pessoas que vivem tranquilas e daquelas como eu, que não vivem, é não pensar. Tem gente que simplesmente não pensa. Vai vivendo, agindo, seguindo e sentindo sem pensar. Eu penso. Penso muito. E penso em tudo. Não quero dizer que faço isso querendo, que sou uma pessoa meticulosa e que sempre sabe de tudo previamente e sempre tem uma resposta. Não, quem dera. Eu apenas penso. Não mudo nada do que sei que vai acontecer. Não consigo fazer nada para tornar diferente aquilo que eu sei que deveria ser feito diferente. Eu apenas sei. E as coisas acontecem do jeito que eu sabia que aconteceriam, mas eu fico ali, assistindo tudo como se fosse inédito e não raras vezes me surpreendo com o rumo delas, embora já os conheça.

Sinto-me num poço de lama onde me debato, me debato e não saio do lugar. Tento pegar minhas pernas e puxo meus cabelos tentando em vão me erguer. Mas quanto mais eu tento, mais ofegante eu fico, mais agitada e sinto mais dor. Meu coro cabeludo de desgruda da cabeça e minhas pernas ficam vermelhas e esfoladas em carne viva pela força com que quero me erguer. E sinto dor. Choro. E desisto. E vou ficando ali, inerte. Eu apenas enxergo e consigo respirar, mas não me mexo.

Eu sei que não é força que vai me tirar dali. Mas eu a uso. Em vão. E embora seja forte, me pergunto para que ser forte se não consigo mudar as coisas? Mas saber que sou forte às vezes me consola. E às vezes me faz sorrir. E me mantém viva. Essa força também não deixa de alimentar a vontade incontrolável que eu tenho de ser feliz. Pena que só ela não baste. Pena que não baste eu querer. Ou basta?

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