E eu olhei pra ela e disse:
– Não me importa mais o que você acha!
Depois desta frase, tão verdadeira e tão espontânea, e, sem ter pensado sobre seu significado, percebi que muita coisa já tinha mudado em nossa relação. Geralmente as coisas acontecem ao contrário, eu penso, percebo que as coisas pegaram novos rumos e depois estes novos rumos invadem minha vida. Mas desta vez não. A frase veio e a despejei. E, depois, veio o estalo.
Mas antes não tivesse dito nada. Muito menos ter sentido o nada. O do vazio, aquele que dá quando perde alguém, perde referência. Alguém que sempre escutei, considerei, confiei. De repente, num domingo chuvoso, no meio de um brigadeiro na panela, eu me deparo com a frase, com a constatação, com a perda.
Ela não disse, só olhou. Olhou por algum tempo. Deu de ombros, e virou. Essa era nossa confirmação. Continuamos ali, comendo brigadeiro e tomando Coca-Cola. Aquela nova verdade entre a gente já estava sendo construída há tempos. Só não tinha se expressado. Não tinha virado frase. Não tinha sido ouvida.