Francois Boucher's Fountain Love (1748)
Cotidiano, Crônica, Filosofando, Pessoal

O que eu preciso!

E eu preciso de cuidado. Admiração. Mimo. Atenção. Alguém que não precise me diminuir para caber em mim. Alguém que me ache bonita. Que tenha orgulho de mim. Que queira ler meus textos e saber o que eu estou sentindo e pensando. Que queira conversar, sobre tudo e sobre nada. Divagar. Passear de mãos dadas, beijar minha mão. Massagear meus pés e fazer amor comigo.

Alguém que me olhe de canto de olho enquanto eu faço qualquer coisa porque me acha interessante sempre. Alguém que se interessa pela minha vida, que queira estar comigo quando estou com a minha família. Que faça parte da minha família. Que some. Que de opinião. Que conte tudo que aconteceu quando fez qualquer coisa longe de mim, qualquer fofoca, qualquer acontecimento, qualquer história, porque eu me interesso pelo que você está vivendo por aí afora. Que queira passear de carro só para ficar pertinho e pode pegar na minha mão. Que queria rir comigo. Chorar comigo. Dormir com um beijo e acordar com um abraço. Que faça questão. Que demostre satisfação. Que demostre que se importa. Que queria me ouvir quando eu tenho algo engraçado, trágico ou que eu só precise reclamar por algum tempo. Que me faça perguntas. Que me dê respostas. Que me toque, muito e sempre. Que saiba que na minha brabeza mora uma carência. Que pode ser sanada com abraço, beijo e palavras de carinho.

Que se sinta em casa na minha casa. Mesmo que a minha casa esteja cheia de convidados. Que se integre. Que se espalhe. Que tenha certeza de seu lugar. Que tome seu lugar. Que exista.

Que me dê palavras. Que fale. O que sente. Como se sente. O que passa na sua cabeça. Que não tenha medo de si mesmo. Que na ausência de palavras, haja! Que demostre. Que se expresse, de algum jeito. Se mostre. Apareça.

Alguém que queira melhorar a minha vida. Que queira me fazer feliz. Que queira me fazer rir. Me fazer me sentir importante. Indispensável. Linda. Querida. Amada.
Alguém que queira melhorar a própria vida e a própria existência para ser melhor para mim. Alguém que queira aprender. Que queira entender. Que queira evoluir. Que esteja em movimento. Que tenha coragem. De fazer, de dizer, de sentir, de demostrar.

Eu preciso do simples, do trivial. Do dia a dia básico, mas vivido com intensidade. Onde o que se sente, se expressa, o que se pensa, se fala. O que tem vontade, deve ser feito. Onde não exista amarras do ser e sentir. Onde o respeito é acima de qualquer c0isa, mas o ser e estar, é livre.

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wandering
Cotidiano, Crônica, História, Pessoal

Uma carta ao meu psiquiatra

Resolvi te escrever uma carta para conseguir dizer com mais calma tudo que eu tenho sentido e pensado sobre minha condição psicológica. Começo dizendo que estou me sentindo apática. Me sinto à toa pela vida. Onde nada que acontece ao meu redor me atinge. Nem coisas boas e nem coisas ruins. A sensação é que pouco me importa com o que acontece fora, eu só consigo ver o que está acontecendo dentro.

E dentro, estou começando a pensar as mesmas coisas que eu pensava antes de começar o tratamento, lá em fevereiro. Pensando que não tenho vontade de sair da cama, não vendo a hora de o tempo passar para chegar a hora de dormir de novo e não precisar viver. Acordo me lamentando pelas coisas que eu perdi, de um passado já bem remoto.

Meu brilho no olhar não volta. A vontade de ser feliz não volta. Vontade de viver a vida, não volta. 

Me pego todo tempo lendo e fazendo testes na internet para ver se me encaixo no perfil de bipolar tipo 2. Primeiro que existe pouquíssimas informações sobre bipolar tipo 2, segundo que tudo que eu vejo sobre isso realmente não vejo que se encaixa comigo. Nunca tive um episódio de hipomania que durasse mais que uma noite de bebida alcoólica. Nunca passei uma noite sem dormir planejando alguma coisa mirabolante que abandonei de uma hora para outra. Sim, eu tenho hiper foco, por isso sou uma excelente profissional na minha área de atuação, mas isso acontece quando precisa acontecer. Não termino meu trabalho e fico pilhada mais tempo que para execução do mesmo.

Sim, quando cheguei no seu consultório eu estava depressiva. Fazia anos já que me sentia apática. Sem vontade de viver e com pensamentos recorrentes de que a vida não fazia o menor sentido. Mas para isso tudo tinha um motivo. Eu estava passando pelo pior momento e minha vida. Eu tinha motivo para estar assim.

Não foi genético ou uma pré-disposição para a doença psicológica, eram coisas reais. Eram problemas reais. Coisas que tinham e que estavam acontecendo na minha vida. Fui para o fundo do poço. Quando cheguei até você eu já tinha colocado a cabeça para fora do poço, afinal, eu estava ativamente procurando ajuda pra tudo que eu estava passando. Já tinha começado tratamento nutricional, para melhorar minha aparência física e já tinha passado por um Gastro para resolver meu problema no estômago e intestino. Na sua consulta, conseguimos um nome para o que eu tinha, que eu não sabia de onde vinha tanta insatisfação. “Ah, você é bipolar tipo 2 e parecia que tudo tinha se encaixado. Agora eu sei que que eu tenho e tem tratamento. Que alívio. Minha vida pode continuar exatamente de onde está, porque agora o remédio vai resolver essa minha insatisfação”.

Comecei o tratamento e já me senti melhor na primeira semana. Mantive minha rotina de dieta e exercício físico e troquei de terapeuta. Até que bum, falei daquilo que eu não tinha coragem de falar para ninguém. E ela foi na ferida, esmagou a ferida, bateu na ferida e me deixou despedaçada. Cheguei no teu consultório acabado, chorando litros. Precisava me livrar daquele vazio no meu peito. Precisava aliviar aquela ferida, precisava curar aquela ferida. Precisava remexer ela até o fundo, tirar todo pus, eliminar toda infecção.

Então comecei tratamento psicológico e em consonância com o tratamento psiquiátrico. Mas minha vida não volta para os meus olhos, meu olhar não sorri, embora minha boca consiga mostrar os dentes, meus olhos permanecem longe.

“Trechos de uma carta escrita ao meu psiquiatra quando estava em depressão, não é fácil, mas é possível. Depois de mais um ano no tratamento pra Bipolaridade tipo 2, descobri que eu não era Bipolar e começamos um tratamento para Unipolar, que me tirou da depressão.! Eu não desisti. Setembro Amarelo!

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Terror noturno

Um gato preto me espreita na porta do apartamento. Eu consigo ver ele de longe. Ele está olhando fixamente para mim. Estou assustada, ele é amedrontador. Estou deitada na minha cama, com a porta do meu quarto aberta, que dá visão a porta de entrada do apartamento. O gato continua imóvel a me fitar ao longe. Tudo parece muito real, afinal estou vendo minha casa exatamente como ela é. Acordo. Abro meus olhos e estou olhando exatamente para o mesmo lugar do meu sonho. O gato sumiu, mas o cenário é o mesmo. Eu não consigo me mexer. O gato não está mais ali, mas meu medo e meu pavor ainda estão. Meu corpo continua dormindo, minha consciência está desperta, mas não consigo me mover. Tento virar minha cabeça para ter outra visão que não seja a porta, mas não consigo. Só consigo abrir e fechar meus olhos. Quero chamar alguém, mas o som não sai. O tempo passa nessa tensão. 

Essa é a minha primeira lembrança de uma paralisia do sono, que aconteceu em meados dos anos 90. Desde então tive incontáveis episódios como esses. Cada vez que acontece é um terror diferente, mas sempre sonhando com algo acontecendo no local exatamente igual onde estou ao acordar. Mesmo panorama, mesmo ângulo, mesma iluminação. Não consigo precisar quanto tempo dura. Mas para quem está passando por isso, é tempo demais.

O que é a paralisia do sono

Paralisia do sono é um tipo de distúrbio do sono em que a pessoa, apesar de estar com a mente ativa e consciente, não consegue movimentar seu corpo, falar ou se movimentar. Esses episódios acontecem quando a mente está despertando ou pegando no sono. No meu caso é sempre quando estou pegando no sono. Além da dificuldade de movimentar o corpo, a paralisia do sono pode envolver episódios de alucinação, onde se vê coisas que não estão ali ou se sente que está sendo observado. 

Ainda podem ser ouvidos barulhos estranhos ou ocorrer experiências sensoriais diversas, como a sensação de estar flutuando e de estar vendo fora do próprio corpo. 

Como eu consegui controlar

Enfrentei a paralisia do sono tempos atras. Hoje eu consigo identificar o dia que eu vou ter, porque a minha consciência me alerta. É como se eu estivesse entrando numa outra dimensão. Quando estou pegando no sono, escuto um som diferente, que realmente não consigo reproduzir em palavras, mas eu sei que é o gatilho para entrar num pesadelo terrível. Eu fico com muito medo porque sei o que vem a seguir. Daí eu fico tentando acordar, para não ter que viver esse pesadelo que eu sei ser os mais terríveis, esses que acontecem na vigília, ou seja, no início do sono. Eu entro no pesadelo e minha fuga dele faz minha consciência acordar, mas meu corpo não. Mas nesse dia, não tive medo. Fiquei tranquila e pensei, só mais um pesadelo, não vou lutar contra ele. É melhor um pesadelo que uma paralisia. E não aconteceu nada. Tive um pesadelo normal, o que é comum para mim, e não tive paralisia. Uma vitória. Não sinto mais medo de ter paralisia, e, acredito que por isso, nunca mais tive. O último episódio foi há mais de um ano. 

Além da paralisia, tenho pesadelos homéricos quase diariamente. Esses não consigo controlar, me acostumei com eles e já faz algum tempo que tenho feito um diário dos meus pesadelos. Meus sonhos são, em sua maioria, que estou perdida. Seja em um hotel, seja em um shopping, em uma cidade grande dentro ou fora do meu país, numa língua que eu não falo ou dentro de uma mansão gigantesca. Também tenho um sonho recorrente com água, que estou prestes a me afogar no mar, no rio ou em uma enchente.

Eu faço terapia a muitos anos, mas nunca consegui controlar minha mente a ponto de controlar meus sonhos. Faz pouco tempo que comecei um tratamento psiquiátrico onde meu médico me disse que a medicação poderia resolver até meus pesadelos, mas isso também não aconteceu, estou em tratamento há mais de seis meses e meus pesadelos ainda continuam acontecendo diariamente.  

O lado bom disso tudo é que todos os dias acordo com a sensação de estar em mundos completamente diferentes, ter falado com pessoas que nunca vi na vida e de ter construído cenários e histórias fantásticas todos os dias. 

Motivos elencados para ter esses episódios

Sou aficionada por histórias, contos e filmes de terror. Eu sinto um arrepio passando por cada sentimento do meu corpo. Me sinto viva e me sinto excitada. Em contos e histórias meu cérebro vibra de tanta imagem passando na minha cabeça tentando reconstruir cada cena que estou ouvindo. Imagino tudo acontecendo, ao mesmo tempo que imagino, tento reconstruir as sensações de calor, luz e aromas que envolvem cada um daqueles acontecimentos. Um filme vai sendo produzido pela minha imaginação ao ouvir a narração de histórias assustadoras.

Mas o preço é alto. Paralisia do sono é apenas um dos episódios que atribuo a essa minha paixão por histórias de terror. Quando me vejo em casa sem mais ninguém ou planejo passar um final de semana sozinha em algum lugar, é como se os personagens de todas as histórias e de todos os filmes fossem passar esse tempo comigo. Meu cérebro começa a procurar em cantos e frestas rostos já conhecidos por mim, de todos os personagens que criei e daqueles que foram criados por alguém, como a menina do exorcista, a Emile Rose e outros personagens do cinema. 

Já parei de ver filmes e séries de terror há muitos anos, mas ainda não resisto a histórias de minha madrinha, por exemplo, dos três fantasmas que vivem no interior de Taquara Verde e guardam o tumulo de um inglês, que viveu naquela região, e que deixou várias panelas de ouro enterradas. A menina com cachorrinho que foi fotografada nessas terras e que detém o local exato das panelas de ouro, mas que ninguém até hoje conseguiu se comunicar com ela, por medo, já que ela está morta. Isso não é irresistível para você? Pois para mim é. Hoje me permito apenas escutar histórias “verídicas” de contos de pessoas comuns, que passaram por isso ou que sabem de alguém que passou.

Hoje percebo que eu consigo controlar a paralisia, mas ainda não consegui controlar minha mente tanto acordada ou em meus pesadelos. Pareço muito corajosa e destemida falando sobre isso abertamente, mas não sou. O título que escolhi para começar a escrever esse texto foi: “uma versão de mim que não curto”.  

O princípio do meu pensamento, que me gera os medos é: “Se eu sei que eles existem, eles também sabem que eu existo”. A partir do momento que eu tomo consciência das histórias e lendas urbanas de fantasmas, eles também tomam consciência de que eu existo e que posso ser uma fonte de comunicação deles do mundo espiritual com o mundo real. Mas eu tenho muito medo disso. 

Preciso entender de onde vem esse medo e essa obsessão por isso. Quem sabe assim eu possa controlar um pouco minha mente para ter uma vida onde eu possa alugar uma cabana no meio da floresta (meu lugar preferido no mundo) e possa ir sozinha, sem ter que levar ninguém para me proteger dos fantasmas que viriam me assombrar.

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Crônica, Filosofando

Antas do Pantanal

“E a inteligência emocional, quando falta, pode levar um gênio da matemática agir como uma anta do Pantanal.”

Esta frase é um trecho do livro da Fernanda Young, “O Pau”. Faz muito sentido pra mim essa frase, devido a momentos de perdas que tive.

Não sou boa em perder. Nunca fui. Sempre fui do tipo de pessoa que ganha coisas e não que perde. E por mais que eu tente me convencer que eu ganhei um monte de coisas, por exemplo: muitos momentos de felicidades, a capacidade de amar, não sentir medo, andar leve por ai, ter momentos bons com pessoas boas, conhecer também gente ruim e aprender com elas como não se vive, conhecer gente infeliz e perceber que dá muito bem pra viver sem elas.

Bom, fazendo essa avaliação agora e repensando as coisas, percebo que ganhei, porque na verdade eu estava só vivendo. E viver é isso. Mas, mesmo assim, ainda me entristece não poder mais viver com essas pessoas, porque são pessoas muitíssimo inteligentes, com quem eu compartilhei um época moderável de minha vida. E que eu queria muito continuar compartilhando. Mas, onde falta a inteligência emocional, eu não consigo viver, ainda não aprendi a entender e respeitar uma anta do Pantanal…

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Crônica, Filosofando

Tão longe

As ruas parecem longes demais. Os prédios são altos e nem imagino como é acima deles. Os corredores parecem não acabar e e nunca sei em que porta entrar. As salas são muito amplas e vazias. Os livros têm muitas palavras e parecem não dizer nada. A TV transmite tanta coisa que nem dá para assimilar. Os pássaros voam longe e borboletas nunca mais vi. Os sons são altos e mal posso decifrá-los. As pessoas passam longe e não posso tocá-las.

Tudo parece tão distante, tão complicado, tão estranho. Faz-me pensar se não é o caminho até mim que nunca chega. Se é o que eu falo que não é pra ser decifrado. Se o que aparento ser, não é o que eu sou. Se o que eu berro, ninguém consegue entender. Se não sei mais voar ou se voo alto demais. Tão distante de mim, tão distante de tudo. 

Longe demais para encurtar ruas, aquecer salas, encurtar conversar, achar a porta certa no corredor, escolher o programa na TV, ter paciência em ler até conseguir entender, sentar e olhar pássaros e esperar borboletas sobrevoarem baixo.

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Idas e vindas

E a vida segue seu curso. Por menos que faça sentido, as coisas vão acontecendo, independente de você estar pronta para elas. As pessoas vão surgindo, as pessoas vão se indo. Cada um que se vai leva um pouco de ti. Cada um que surge trás consigo um pouco de ti que você nem sabia que existia. Uns se vão com aquela pessoa que você adorava ser. Alguém que sorria, que cantava, que contava histórias. Que calava. Um silêncio doce replato de sentimentos bons. Um belo dia levam isso de ti.

Muitas vezes corremos atrás para trazer tudo aquilo de volta. Numa tentativa desesperada e desastrada de voltar a ser quem éramos. E por vezes consigimos trazer a pessoa de volta, mas dificilmente ela trás você de volta. E tudo perde de novo o sentido e você percebe que precisa de coisas novas. Pessoas novas. Sentimentos novos. Mas nesses idas e vindas não temos controle de quem vai surgir. E tampouco o que essa pessoa vai fazer surgir em você.

Mas já que corremos o risco de sermos felizes no meio disso tudo, mergulhamos de cabeça, arriscamos o que for. Porque não vai ser na inércia que mais uma vez você vai sentir que o mundo cabe dentro de você. E que você cabe nele perfeitamente.

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