Crônica, Filosofando

Tão longe

As ruas parecem longes demais. Os prédios são altos e nem imagino como é acima deles. Os corredores parecem não acabar e e nunca sei em que porta entrar. As salas são muito amplas e vazias. Os livros têm muitas palavras e parecem não dizer nada. A TV transmite tanta coisa que nem dá para assimilar. Os pássaros voam longe e borboletas nunca mais vi. Os sons são altos e mal posso decifrá-los. As pessoas passam longe e não posso tocá-las.

Tudo parece tão distante, tão complicado, tão estranho. Faz-me pensar se não é o caminho até mim que nunca chega. Se é o que eu falo que não é pra ser decifrado. Se o que aparento ser, não é o que eu sou. Se o que eu berro, ninguém consegue entender. Se não sei mais voar ou se voo alto demais. Tão distante de mim, tão distante de tudo. 

Longe demais para encurtar ruas, aquecer salas, encurtar conversar, achar a porta certa no corredor, escolher o programa na TV, ter paciência em ler até conseguir entender, sentar e olhar pássaros e esperar borboletas sobrevoarem baixo.

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Cotidiano, Crônica, Filosofando

Idas e vindas

E a vida segue seu curso. Por menos que faça sentido, as coisas vão acontecendo, independente de você estar pronta para elas. As pessoas vão surgindo, as pessoas vão se indo. Cada um que se vai leva um pouco de ti. Cada um que surge trás consigo um pouco de ti que você nem sabia que existia. Uns se vão com aquela pessoa que você adorava ser. Alguém que sorria, que cantava, que contava histórias. Que calava. Um silêncio doce replato de sentimentos bons. Um belo dia levam isso de ti.

Muitas vezes corremos atrás para trazer tudo aquilo de volta. Numa tentativa desesperada e desastrada de voltar a ser quem éramos. E por vezes consigimos trazer a pessoa de volta, mas dificilmente ela trás você de volta. E tudo perde de novo o sentido e você percebe que precisa de coisas novas. Pessoas novas. Sentimentos novos. Mas nesses idas e vindas não temos controle de quem vai surgir. E tampouco o que essa pessoa vai fazer surgir em você.

Mas já que corremos o risco de sermos felizes no meio disso tudo, mergulhamos de cabeça, arriscamos o que for. Porque não vai ser na inércia que mais uma vez você vai sentir que o mundo cabe dentro de você. E que você cabe nele perfeitamente.

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